Behar-Bechukotai
Behar-Bechukotai
Aspectos da 32º e 34º parashá:
בהר>>Behar-Bechukotai
O texto desta Parashá é: Behar-Bechukotai - (Levíticos 25:1-26:2//26:3-27:34) >> Siga sempre detereminado

O texto da Haftará é: (Zacarias 2:14 - 4:10);
O texto da Brit Hadasha : (Mateus 21:33-46)
Behar, concentra-se principalmente nas mitsvot referentes à terra de Israel, começando com a ordem de cumprir Shemitá - a mitsvá de deixar o campo sem cultivo a cada sete anos, abstendo-se de plantar e colher. Da mesma forma, a terra em Israel deve permanecer não cultivada no Yovel, ou 50º ano, quando então a propriedade de todas as terras retorna automaticamente à sua herança ancestral.
D'us promete que abençoará a terra no sexto ano, para que produza alimentos suficientes para durar por todo o período de Shemitá. Após descrever este processo, pelo qual os proprietários originais da terra podem redimir sua propriedade ancestral nos anos que precedem Yovel, a porção muda para falar sobre os pobres e oprimidos. Não apenas somos ordenados a dar-lhes tsedacá e fazer atos de bondade, como o ideal seria fornecer-lhes os meios para sair de seu estado de pobreza.
Somos proibidos de receber e pagar quaisquer juros em empréstimos feitos a outros judeus. A Torá então discute os vários detalhes a respeito de servos judeus e não-judeus que trabalham para judeus, e a mitsvá de redimir judeus que são servos de não-judeus. Todos os servos judeus devem ser libertados antes do início do ano Yovel.
A porção conclui repetindo a proibição da idolatria, e as mitsvot de guardar o Shabat da profanação e reverenciar os locais santificados de D'us.

A porção desta semana da Torá pinta um quadro sinistro para os fazendeiros do Israel. Após receberem ordens na Parashá Kedoshim (Vayicrá 19:9) de que algumas porções da colheita devem ser deixadas para os pobres (como os cantos dos campos, a produção esquecida quando da colheita, etc.), esta semana a Torá informa ao fazendeiro que deve também observar a Shemitá, permitindo que seu campo permaneça inculto a cada sete anos.
Certamente, esta é uma pílula difícil de engolir: manter-se casher e celebrar o Shabat são uma coisa, mas sacrificar o próprio meio de vida por um ano inteiro parece equivalente ao suicídio financeiro. Por que a Torá exigiu tanto de simples fazendeiros?
Embora vários comentaristas ofereçam interpretações do mandamento da Shemitá, o Keli Yacar rejeita a maioria destas explicações e em seu lugar oferece sua própria hipótese. Ele teoriza que a Torá havia exigido a cessação de toda atividade agrícola a fim de inculcar no povo judeu um senso de confiança e fé em D'us. Se eles tivessem permissão de plantar e colher à vontade, chegariam à conclusão equivocada que seu meio de vida e sustento devem ser atribuídos à sua própria labuta e esforço. Os judeus deduziriam erroneamente que seu próprio controle sobre as forças naturais do mundo estabeleciam seu destino e seu sucesso.
Portanto, o Criador instituiu o ciclo Shemitá para que o povo judeu percebesse que suas conquistas e realizações dependem completamente da graça e boa vontade Dele. Quando confrontado com a realidade da colheita inexistente, os judeus não têm outra escolha a não ser voltar-se para D'us por sustento e apoio.
Embora muitos de nós, como não somos fazendeiros, não possamos apreciar completamente a importância de um ano Shemitá, mesmo assim podemos também extrair uma lição para nossa vida. Muitas vezes tornamo-nos presas de nosso sucesso, dando-nos tapinhas nas costas e nos congratulando por um trabalho bem feito. Deixamos de perceber a verdadeira fonte de nossa prosperidade. Iludimo-nos pensando que "minha força e o poder de minha mão trouxeram-me esta riqueza" (Devarim 8:17). Apenas quando passamos por tempos difíceis finalmente percebemos nossa impropriedade.
A fim de lembrarmo-nos do verdadeiro Provedor de nossas necessidades, o Criador deve tomar atitudes severas que nos forçarão a reexaminar nossa autoconfiança. Ao suportar estes tempos duros e que exigem muito de nós, podemos chegar a uma total apreciação da bondade e compaixão de D'us.

Shemitá - O descanso da terra a cada sete anos
Como se sabe, D'us ordenou ao povo judeu: "O sétimo dia da semana é Shabat. Neste dia, vocês devem abster-se de fazer quaisquer tarefas cotidianas."
D'us também nos ordenou que guardássemos outro tipo de Shabat: "A cada sete anos, a terra de Israel terá um 'Shabat'. Neste ano de descanso, não podereis trabalhar a terra."
O Shabat da terra chama-se Shemitá, que significa "deixar livre" ou "retirar-se". Durante o ano de Shemitá os agricultores de Israel abstém-se de lavrar a terra.
Por que D'us ordenou ao povo judeu a mitsvá de guardar os anos de Shemitá?
Façamos uma analogia com o cumprimento do Shabat.
Cumprimos o Shabat para recordar que "D'us criou o mundo em seis dias e no sétimo dia Ele descansou."
Mais que isso, porém: um judeu, quando cumpre Shabat, demonstra que confia em D'us e compreende que D'us cuida dele. Como ele deixa de ganhar seu sustento uma vez por semana? Não teme que sua família não tenha o suficiente para viver? A resposta é que ele confia verdadeiramente em D'us, que ordenou descansar no Shabat, e que proverá tudo de que necessita.
D'us deseja que Seu povo, em qualquer o lugar onde esteja, deposite sua confiança Nele, e somente Nele. Ele temia que os judeus estabelecidos em Israel, que possuíam terras férteis e fecundas, começassem a depositar sua confiança na terra.
Por isso, D'us ordenou ao povo judeu uma mitsvá para guardarem em Israel: a mitsvá de Shemitá. Sempre que um agricultor judeu guarda a mitsvá de Shemitá, ele lembra que "D'us é o Criador do mundo, é Quem me alimenta, e à minha família."
As três promessas de D'us ao povo judeu
D'us fez três promessas ao povo judeu, se observassem a mitsvá de Shemitá:
1. D'us prometeu que a colheita do ano anterior ao ano de Shemitá duraria três anos: "Não se preocupem. Abençoarei a terra, de modo que a colheita do sexto ano seja suficiente para o sexto, sétimo e oitavo anos."
2. D'us prometeu que "Durante o ano de Shemitá ficam satisfeitos, apesar de comerem pequenas quantidades de alimento. Assim, sua produção agrícola durará."
3. E a terceira promessa: "Se guardarem tanto os anos de Shemitá como os de Yovel (vide explicação mais adiante), estarão seguros em Israel. Porém se não observarem nem Shemitá, nem Yovel, seus inimigos os forçarão ao exílio."
Há leis especiais referentes ao ano de Shemitá; e estão divididas nas três categorias a seguir:
1. No ano de Shemitá um judeu não pode trabalhar a terra em Israel
O ano de Shemitá começa em Rosh Hashaná e termina antes de Rosh Hashaná do ano seguinte. Neste período, um lavrador judeu, em Israel, não pode semear, arar, plantar ou colher; tampouco pode arar ou realizar qualquer tarefa que implemente o solo. É um ano de descanso do trabalho agropecuário. Apenas os cuidados mínimos necessários especificados pela halachá (lei judaica) são permitidos, a fim de evitar que as plantas pereçam.
2. Os frutos do ano de Shemitá são sagrados e não pertencem ao agricultor
Durante o ano de Shemitá, um agricultor não pode colher todos os frutos para si, mesmo que veja suas árvores frutíferas florescerem e darem frutos. Os frutos que crescem durante o ano de Shemitá não pertencem ao seu dono. Pertencem a D'us, Que ordenou que fossem compartilhados igualmente entre todos. Qualquer judeu que queira pode colher alguns frutos para si. O proprietário não pode trancar o portão e impedir que outros judeus entrem. Estes podem colher tudo o que necessitam para aquele dia; não podem, todavia, pegar mais que isto. O proprietário pode comer da produção de seus campos como qualquer estranho, e levar para casa o suficiente para as refeições de um dia, porém não pode colher toda a produção, pois isto seria como se estivesse reivindicando sua propriedade.
Se alguém, durante a Shemitá, colher produtos do seu campo para comer em casa, não é permitido que os estoque indefinidamente. Deve removê-los de suas posses num determinado prazo, e deixar que outros, ou os pobres, os tenham.
O prazo para remoção é diferente para cada tipo de produto, coincidindo com o momento em que as produções agrícolas particulares não estejam mais à disposição nos campos.
Todos os frutos que crescem no ano de Shemitá são santos e devem ser tratados com o devido respeito, de maneira diferente dos outros frutos. As frutas não podem ser vendidas. As cascas e outras partes não comestíveis não podem ser jogadas no lixo, mas deixadas no campo, ou que se estraguem sozinhas.
As verduras têm uma lei diferente:
Nossos Sábios decretaram que não se pode comer nenhuma verdura que cresce no ano de Shemitá. Temiam que se não existisse esta lei, alguém desonesto poderia plantar verduras na Shemitá e dizer que cresceram sozinhas.
3. O perdão dos empréstimos no ano de Shemitá.
Um judeu que emprestou dinheiro a outro não pode exigir sua devolução daquele que o tomou emprestado, ao término do ano de Shemitá. Esta mitsvá se aplica tanto em Israel como na diáspora.
Já na época do Talmud, devido a esta lei, muitas pessoas deixavam de fazer empréstimos quando a Shemitá se aproximava. Para evitar este comportamento, o ilustre erudito e líder, Hilel, instituiu uma fórmula que permite reclamar o pagamento mesmo depois do sétimo ano, denominada peruzbul. Consiste no credor transferir suas dívidas a uma corte rabínica antes do ano sabático, quando então a dívida deixa de ser individual, tornando-se passível de cobrança (conforme a própria lei da Torá estipula) durante ou após a Shemitá.

Mais detalhes sobre o significado de Shemitá
As leis de Shemitá expressam conceitos fundamentais da Torá:
1. Observando-as reconhecemos que não possuímos a Terra.
D'us ordenou: "Descanse no sétimo ano para que saiba que Minha é a Terra."
2. Durante a Shemitá, o fazendeiro é forçado a virar-se diretamente ao Todo-Poderoso e implorar-Lhe que provenha seu sustento, pois está proibido de trabalhar para prover a si mesmo de alimentos. Desta feita, chega a compreender que mesmo nos outros seis anos nos quais é permitido trabalhar, ele ceifa apenas por causa da Providência do Todo-Poderoso, e não como resultado de sua própria labuta.
O judeu não deve tornar-se auto-confiante e pensar que sua prosperidade é resultado do trabalho de suas próprias mãos. Ele deve estar cônscio de dois pontos:
• A fertilidade da terra e prosperidade da colheita são determinadas por fatores além de seu controle como as chuvas, calor ou geada, e assim por diante. D'us pode enviar animais selvagens, insetos, ou outros agentes prejudiciais para destruir a produção inteira, se Ele assim o desejar.
• Não só isso, como o próprio crescimento da planta não é resultado automático de ter sido semeada. Nada consegue crescer, brotar, desenvolver-se, ou sequer existir sem a Vontade do Todo-Poderoso. Se Ele retirar Sua Vontade de Conceder Vida de algo no universo, nem que seja por um instante, cessaria de existir.
O tipo de profissão escolhido pela pessoa não lhe garante uma vida de prosperidade ou pobreza. D'us despeja riquezas sobre cada indivíduo conforme Ele julga adequado. Portanto, cada um deve implorar-Lhe, a Quem é o Mestre de todas as riquezas que lhe conceda sustento.
A lição de Shemitá aplica-se não somente ao fazendeiro judeu, mas igualmente ao lojista, industrial, vendedor, profissional liberal e operário.
Em qualquer estágio de sua carreira ele pode sucumbir ao equívoco de que é seu trabalho ou esforços que asseguram-lhe o sustento. Tampouco seu negócio, nem sua indústria ou empregador são seus "fornecedores de sustento." Há apenas Um Que é o encarregado, e somente Ele determina se alguém terá sucesso em seus esforços ou não. Não importa quão desesperadamente um homem luta para ser bem sucedido em seus negócios, seus planos serão sabotados e darão em nada, se assim for decretado no Céu. Por outro lado, se o decreto Celestial for que deva prosperar, um esforço mínimo garantirá o mesmo resultado.
3. O Todo-Poderoso pretende que o ano seja de inatividade do trabalho, a fim de que os agricultores possam dedicar-se ao estudo da Torá. Da mesma forma que Ele proibiu que trabalhássemos em Shabat a fim de dedicarmos este dia, assim Ele destinou cada sétimo ano a ser uma época de incremento nos estudos da Torá.
A Torá nos conta as conseqüências acarretadas por um judeu que falha em observar Shemitá:
• D'us disse: "Eu te ordeno a trabalhar seis anos e permitir à Terra descansar no sétimo, porém tu a privas de seu devido descanso. Portanto, serás exilado, e ela então será recompensada de todos os anos de descanso dos quais a privaste." (Vayicrá 26:43).
Hoje em dia também observamos Shemitá?
Apesar da destruição do Templo Sagrado, todas as leis acima mencionadas também vigoram atualmente na Terra de Israel.
Os proprietários de terras em Israel devem cumprir a mitsvá de Shemitá. Podem regar as plantas o suficiente apenas para que não ressequem. Os que guardam o ano de Shemitá sabem que não terão entradas durante um ano, por não trabalharem em seus campos; porém são heróis que confiam em D'us.
Os produtos de Shemitá não podem ser vendidos comercialmente, por causa de sua santidade; nem mesmo após o ano de Shemitá, uma vez que são sagrados para sempre. De acordo com muitos rabinos esses não podem sequer ser exportados para países fora de Israel.
Consumidores de produtos importados de Israel devem certificar-se de que não estão comprando nada que tenha crescido em anos de Shemitá. Produtos frescos de Israel geralmente chegam ao exterior durante o ano de Shemitá, e no seguinte. Enlatados fabricados em Shemitá permanecem no mercado ainda por muitos anos.
Os judeus que vivem na diáspora também podem participar da mitsvá de Shemitá doando dinheiro a um fundo especial de auxilio aos agricultores que guardam Shemitá.
O Midrash compara os judeus que se abstém de trabalhar a terra durante Shemitá aos anjos. Sua confiança em D'us eleva-os tanto que parecem mais anjos que seres humanos.
Nossos Sábios ensinam: "Mashiach virá ao final de um ano de Shemitá". Os que observam o ano de Shemitá como se deve contribuem para a chegada de Mashiach.

A mitsvá de Yovel após sete Shemitot
Para um agricultor judeu, é muito difícil não trabalhar os campos e pomares durante um ano inteiro, não podendo dispensar-lhes os cuidados adequados. Que dirá então o quão difícil é para ele não trabalhar a terra por dois anos seguidos!
Na época do Templo Sagrado isto era exatamente o que acontecia a cada cinqüenta anos. A Torá nos ordena a guardar um ano de Yovel (Jubileu) a cada 50 anos. Em Yovel, tal como em Shemitá, é proibido trabalhar a terra. Atualmente, não se guarda o Yovel.
O Yovel caracterizava-se por três obrigações, que recaíam sobre a nação inteira:
1. Abstenção de qualquer trabalho agrícola, exatamente como em Shemitá.
2. Liberdade incondicional para todo escravo hebreu.
3. A devolução de todos os campos aos seus proprietários originais.
No Yovel, os escravos judeus são libertados
A cada ano de Yovel, em Yom Kipur, o San'hedrin (Tribunal Superior) tocava o shofar. A seguir os judeus em Israel, tocavam o shofar. O som podia ser ouvido em Israel inteira, anunciando: "Chegou a hora de libertar todos os escravos judeus. Todos os que possuem escravos judeus devem libertá-los e enviá-los à suas casas."
Não importava se o escravo recém começara a servir seu senhor, ou se já havia trabalhado seis anos, todo escravo judeu tinha de ser enviado de volta ao seu lugar de origem.
O toque do shofar era um lembrete para ouvir e observar esta mitsvá. Depois de possuir um escravo por um longo período, o amo deve achar difícil mandá-lo embora; assim como o escravo pode ficar relutante em deixar seu amo.
De Rosh Hashaná até Yom Kipur do ano de Yovel, um escravo não retorna à sua casa; nem seu amo pode empregá-lo. Em vez disso, senta-se à mesa de seu amo, come, bebe, e relaxa. Quando o shofar é tocado em Yom kipur, ele finalmente parte.
Este período de dez dias de transição ajudam-no a readaptar-se à liberdade.
D'us disse: "Quando tirei o povo judeu do Egito, tornaram-se Meus escravos. Por isto, nenhum judeu poderá servir a outro por toda a vida, somente Eu posso exigir tal submissão."
O que nos ensina a mitsvá de tocar o shofar no Yovel?
O toque do shofar no ano de Yovel anuncia a libertação de todos os escravos judeus.
Da mesma forma, um dia escutar-se-á um magnífico toque do shofar, que anunciará a vinda de Mashiach. Este som será o início da verdadeira liberdade para o povo judeu. Mashiach virá e construirá o Terceiro Templo Sagrado. D'us libertará o mundo da morte e da má inclinação. A ressurreição dos mortos será realidade, e viveremos para sempre.
Rezamos diariamente na oração da Amidá para que isto aconteça logo: Soe o grande shofar anunciando nossa liberdade!
No Yovel, todos os campos retornam aos seus antigos proprietários
No ano de Yovel, todos os campos devem ser devolvidos ao dono original (ou seus descendentes) a quem foi dada a terra quando a Terra de Israel foi dividida entre as tribos. Assim, as propriedades em Israel serão mantidas dentro das tribos às quais foram originalmente destinadas, respeitando a divisão Divina das terras.
A Torá proíbe a compra ou venda de propriedades em Israel, com a intenção de troca de mãos para sempre. Mesmo se tal condição ou cláusula tenha sido erroneamente estipulada, não é acatada, e o campo é restituído ao proprietário original no ano de Yovel.
Quem compra ou vende terras em Israel sabe, então, que a transação não é permanente, mas sim até o ano de Yovel, quando então será devolvida ao seu legítimo dono. Quanto mais perto se estiver do Yovel, tanto menos se pagará por um campo.
D'us disse: "A Terra em Israel não pode ser vendida para sempre, pois não pertence a vocês, mas a Mim. Vocês são apenas estrangeiros e colonizadores nela, e não devem se considerar seus proprietários."
Tal como as leis de Shemitá, as de Yovel também indicam que D'us é o verdadeiro dono de todos os nossos pertences; não somos proprietários permanentes de nossos campos, nem de nossos escravos.
Leis para se adquirir uma casa em Israel
Se um judeu vivia em uma cidade cercada por muralhas na época de Yehoshua (sucessor de Moshê e conquistador da Terra de Israel) e vendesse sua casa, o novo dono deveria devolvê-la no ano de Yovel.
Se um judeu morasse numa cidade que não era cercada por muralhas na época de Yehoshua, não devolveria a casa ao seu proprietário anterior no ano de Yovel. O proprietário tinha o direito de recomprar a casa até um ano após a venda. O novo dono deveria devolvê-la neste prazo. Uma vez, porém, que o ano findasse, o novo proprietário poderia ficar com a casa indefinitivamente.
Contudo, se um Levi vendesse sua casa numa das 48 cidades pertencentes aos leviyim, esta casa deveria ser devolvida no ano de Yovel, independentemente da cidade ser ou não cercada de muralhas.

Não enganar em transações comerciais
A Torá nos adverte: "Ao comprar ou vender um campo, não abuse da outra parte. Calcule exatamente quantos anos faltam para o Yovel e pague o preço justo!"
A Torá nos ordena a tratar os outros honestamente, não só ao vender propriedades, mas sempre que efetuamos qualquer negócio.
Um judeu não deve pedir um alto preço de um comprador que ignora o valor da mercadoria. Se superfaturar enganosamente um cliente, transgride a proibição de onaá. O comprador é igualmente advertido a não trapacear o vendedor, e adquirir uma peça valiosa por preço baixo se o vendedor não estiver ciente de seu valor verdadeiro.
Não magoar a outrem verbalmente
Além da proibição de não trapacear alguém em assuntos financeiros, esta parashá também menciona a proibição de ofender um semelhante verbalmente. A Torá diz: "É proibido magoar com palavras cruéis ou equivocadas." (25:17)
Alguns exemplos inclusos nesta proibição são:
• Lembrar alguém do seu mau comportamento ou de seus pais, no passado.
Devemos também ter o cuidado de, ao relacionar-se com um convertido ou aquele que retornou às raízes judaicas, não lembrá-lo de seu passado. Ele poderia ficar envergonhado ou pouco à vontade.
• Não se pode chamar alguém por algum apelido insultante.
• Se alguém se comporta tolamente, não podemos envergonhá-lo, nem fazer qualquer comentário que lhe seja doloroso.
• Quando alguém vê outro sofrendo, não deve dizer maliciosamente: "É sua própria culpa, seus pecados causaram-lhe isto."
• Se alguém não pretende comprar um artigo, não deve passar ao vendedor a impressão de que o comprará.
• Se alguém nos faz uma pergunta, não devemos responder de maneira rude, responder errado ou fornecer informações incorretas.
Certa vez, o sábio Hilel estava andando no caminho e encontrou um grupo de mercadores que possuíam trigo para vender.
"Quanto custa uma seá (medida correspondente a cerca de 8 kg.) de trigo?" - indagou.
"Dois dinares," responderam.
Um pouco depois, deparou com outro grupo de mercadores de trigo, e perguntou novamente: "Por quanto vocês vendem uma seá de trigo?"
"Três dinares," responderam.
"Por que seu trigo é tão caro?" - perguntou Hilel. "Outros mercadores acabaram de me dizer que o preço é de dois dinares a seá!"
"Babilônios estúpidos!" - praguejaram. "Você não sabe que o preço depende da quantidade de trabalho investida na produção do grão?"
"Ouçam-me," censurou-os Hilel. "Formulei uma questão adequada. Por que, então, insultam-me (violando, desta forma, a proibição da Torá)?!"
A censura de Hilel convenceu os mercadores de que agiram errado, e se arrependeram.
A Torá conclui a proibição de magoar os sentimentos alheios com a frase: "E tu deves temer a teu D'us" (25:17). Em muitas situações uma observação pode parecer inocente aos observadores, mas apenas quem está ofendendo sabe que a disse com intenções maliciosas. Portanto, é ordenado a refrear-se por temor ao Todo-Poderoso, Que sabe os pensamentos que envolvem seu coração.
Nossos Sábios debatem a questão sobre qual dos dois pecados é mais grave: ferir alguém verbalmente ou trapaceá-lo financeiramente.
De acordo com o ponto de vista da Torá, ferir os sentimentos de um semelhante é pior. Há três razões para isto:
1. Ao trapacear, causa à vitima uma perda de propriedade que, afinal de contas, não é parte intrínseca dela. Magoando seus sentimentos, por outro lado, acerta-a em cheio no coração.
2. Alguém pode retificar-se por ter cobrado a mais ou trapaceado alguém em assuntos financeiros, neste caso, o dinheiro pode ser restituído. O dano causado por um insulto, todavia, pode tornar-se irreparável.
3. A Torá conclui a proibição de ofender alguém com as palavras: "E tu deves temer a teu D'us," a fim de indicar a gravidade da proibição.
Como devemos ser cuidadosos para não insultarmos alguém, pois se esta pessoa a quem insultamos clamar por D'us, Ele reage imediatamente.
As leis de redenção das casas e campos em Israel
Quando todas as tribos habitavam em Israel nos territórios que lhes eram destinados, não era apropriado para um judeu vender sua casa ou campo a fim de levantar dinheiro para adquirir algo. A Torá permite que se venda a propriedade apenas se for a pessoa sentir-se forçada pela fome ou necessidades terríveis.
Se alguém for forçado a vender sua propriedade, a Torá lhe concede a opção de readquiri-la ou, segundo a terminologia da Torá, "redimi-la". O novo proprietário é obrigado a vendê-la de volta.
Se não tiver meios para readquirir a propriedade, é uma mitsvá que seus parentes a devolvam. Um parente tem os mesmos direitos de comprar novamente a propriedade vendida, como se fosse o próprio dono.

A obrigação de reerguer sobre seus próprios pés um necessitado
A Torá ordena: "E se teu irmão empobrecer e ficar desprovido de seus recursos, você deve sustentá-lo mesmo se tratar-se de um convertido, ou guer toshav - (um não-judeu que cumpre as Sete Leis de Nôach) para que possa viver com você." (Vayicrá 25:35)
Este versículo ensina que é uma obrigação estender auxílio financeiro a um semelhante judeu ou até a um guer toshav que necessite de um empréstimo ou caridade. É uma mitsvá emprestar ou dar-lhe dinheiro para gerir seus negócios, ou o necessário para alguma transação para a qual lhe faltam os meios.
A Torá enfatiza que devemos reerguê-lo sobre seus pés antes que seja reduzido à bancarrota e necessite de caridade.
Se um burro começa a sucumbir sob sua carga, um homem possui força suficiente para ajustar a carga em seu lombo, ou retirar um pouco dessa, de modo que consiga prosseguir. Uma vez que o burro tenha sucumbido, contudo, nem mesmo cinco homens fortes conseguem colocá-lo novamente de pé.
Similarmente, devemos ajudar alguém assim que seus meios começarem a escassear, e não adiar até que tenha ido à falência.
"Bem afortunado é o quinhão daquele que auxilia os pobres sabiamente" (Tehilim 41:2). Dar caridade sabiamente, sem envergonhar quem a recebe é uma arte.
Sempre que Rabi Yoná escutava que um homem muito rico perdera todo seu dinheiro mas estava envergonhado para pedir caridade, costumava visitá-lo em casa e dizer-lhe: "Tenho ótimas notícias para você! Soube que você é herdeiro de uma fortuna de alguém que mora além-mar. Enquanto isso, por favor, aceite um pequeno empréstimo de minha parte! Você me pagará assim que tomar posse do dinheiro."
Ao recuperar-se financeiramente e ir pagar seu débito, Rabi Yoná dizia: "Guarde-o, dei-lhe de presente."
No Templo Sagrado havia uma câmara chamada "Lishcat Chashai" -"Câmara dos Presentes Secretos." Judeus tementes a D'us depositavam dinheiro neste local, e famílias pobres o recebiam anonimamente, conseguindo viver destas doações.
Ao perceber um pobre atrás de si, Rabi Lezer deixava cair propositadamente um dinar, dando a impressão de tê-lo deixado cair acidentalmente. O pobre o levantava e corria para devolvê-lo. "Pode ficar com ele," dizia Rabi Lezer, "Já tinha perdido a esperança de recuperá-lo."
Nossos sábios ensinam: "Se você tiver mérito, satisfará a fome de Yaacov (despenderá dinheiro em caridade); se não, a de Essav (em vez disso, o dinheiro será consumido por "Essav"). Esta verdade é evidenciada pela seguinte história:
Rabi Yochanan ben Zacai sonhou na noite de Rosh Hashaná (quando os proventos de uma pessoa são determinados para o ano todo) que seus dois sobrinhos perderiam a soma de setecentos dinares no decorrer do ano vindouro.
Após Yom Tov, visitou os sobrinhos e ordenou-lhes que se encarregassem de sustentar os pobres.
"De onde conseguiremos os fundos?" - perguntaram.
"Sustentem-nos com seu próprio dinheiro," ordenou Rabi Yochanan. "Anotem as quantias distribuídas. Se perderem com a proposta, eu lhes reembolsarei ao final do ano."
Os sobrinhos obedeceram, e distribuíram enormes somas para caridade. Perto do final do ano, um oficial do governo romano chegou e exigiu que pagassem setecentos dinares de propina. Para que não reagissem, dois soldados os jogaram na prisão.
Rabi Yochanan ouviu as notícias e foi ver os sobrinhos na prisão.
"Ao todo, quanto dinheiro vocês distribuíram para tsedacá?" - perguntou-lhes.
"Anotamos tudo," retrucaram. Consultando seus registros, calcularam que distribuíram um total de 683 dinares.
"Deixem-me dizer-lhes como agir," instruiu-os Rabi Yochanan. "Dêem-me mais dezessete dinares, e eu garanto que sairão da prisão."
"Que idéia mais esquisita," disseram-lhe. "Estamos sendo mantidos cativos por devermos setecentos dinares, e você diz que nos libertará com dezessete!"
Retrucou: "Apenas dêem-me os dezessete dinares, e não se preocupem!"
Deram a quantia a Rabi Yochanan, que foi ver o emissário do governo. Passando as moedas de suas mãos ao emissário, Rabi Yochanan pediu-lhe que deixasse seus sobrinhos escaparem. Sob a influência da propina, o homem deu instruções para que fossem soltos secretamente.
Os sobrinhos foram a Rabi Yochanan e perguntaram-lhe como sabia com tanta certeza de que dezessete dinares garantir-lhes-iam a fuga.
"Tive uma revelação Divina na noite de Rosh Hashaná de que vocês perderiam setecentos dinares este ano," explicou-lhes. "Uma vez que estavam destinados a terem esta despesa, aconselhei-os a sustentarem os pobres - é melhor gastar esta soma em tsedacá."
"Por que não nos contou sobre seu sonho?" - perguntaram-lhe os sobrinhos. "Teríamos despendido os remanescentes dezessete dinares também em tsedacá."
"Preferi guardar segredo de vocês," respondeu Rabi Yochanan, "para que dessem em prol da própria mitsvá, em vez de pensar que seria em seu próprio benefício."
Esta história demonstra que se alguém é avarento com tsedacá, recairá em despesas imprevistas, que levarão sua renda ao original decretado em Rosh Hashaná passado.
Ao dar tsedacá, o pobre dá ao seu benfeitor mais que o benfeitor dá ao pobre. Enquanto o doador despende apenas riqueza material, recebe, em troca, uma inestimável riqueza de méritos espirituais que ultrapassam de longe o que deu.
Através da caridade, uma pessoa pode ser resgatada da morte neste mundo.

É proibido emprestar ou tomar emprestado a juros
É proibido emprestar ou tomar emprestado de um judeu a juros. A proibição contra os juros inclui dinheiro, artigos, e mesmo palavras. Além disso, qualquer um envolvido na negociação peca, como as testemunhas e fiadores.
A fim de evitar a proibição de cobrar juros, um judeu deve utilizar um contrato haláchico especial (heter iscá; que transforma seu status em sócio silencioso) ao conduzir uma transação envolvendo empréstimos com outro judeu. Deve-se consultar uma autoridade haláchica competente.
A Torá também se refere aos juros com o termo "neshech", que significa "mordida." D'us adverte quem empresta: "Não aja da maneira como a cobra, astutamente oferecendo empréstimo a alguém, e depois extorquindo dinheiro dele através de juros, e gradualmente tomando posse de suas casas, campos e vinhedos por não conseguir pagar os juros."
Deve-se tratar bem o servo
No livro de Shemot, a parashá de Mishpatim menciona as leis referentes a um escravo judeu vendido pelo tribunal por roubo. Esta parashá lida com o escravo judeu que se vendeu.
Um judeu não deve se vender como escravo a fim de ganhar dinheiro, adquirir propriedades, animais ou outros bens. A Torá permite isto apenas como último recurso, em caso de extrema penúria.
Um amo judeu é obrigado a sustentar não apenas seu escravo, mas também sua esposa e filhos. Todas as leis de como tratar um escravo como seu irmão também se aplicam ao escravo que se vende. Por exemplo, o mestre deve dar-lhe o mesmo alimento, bebidas, roupas e cama que ele mesmo usa; não pode oferecer-lhe condições de vida inferiores às suas próprias. Se houver apenas um coberto ou travesseiro para o dono e o escravo, a Torá proíbe o dono de utilizá-los; é obrigado a dá-los ao escravo.
O amo não pode empregar o escravo noite e dia; é obrigado a conceder-lhe períodos de descanso apropriados. Deve tratá-lo com a mesma dignidade que faria com um trabalhador contratado que não é seu escravo.
Nossa parashá acrescenta a proibição de tratar o escravo judeu de maneira ríspida (25:42). Isto inclui os seguintes pontos:
1. O amo não pode exigir do escravo que realize uma tarefa da qual não necessita realmente. Por exemplo, não pode pedir-lhe: "Esquente água para mim," ou "Esfrie água para mim," quando não há necessidade.
2. O amo não pode confiar ao escravo judeu uma tarefa por período indefinido. Por exemplo, não pode ordenar-lhe: "Cave entre as fileiras deste vinhedo até que eu volte," sem dizer-lhe quando volta.
Uma vez que o que é considerado "tratamento ríspido" depende de circunstâncias subjetivas, e deve, portanto, ser deixado ao discernimento do amo, a Torá adverte: "E temerás teu D'us"! D'us sabe se você tem intenção de degradar ou explorar o escravo. Se o fizer, Ele lhe punirá.
Apesar da proibição de tratar um escravo de maneira ríspida, Maimônides legisla que o virtuoso não deve impor um pesado jugo sobre qualquer escravo, não oprimi-lo, e sustentá-lo de acordo com suas posses.
Especificamente, um servo canaanita de valor merece ser tratado dignamente.
Todo escravo judeu é libertado no ano de Yovel, porque D'us declarou: "Todo judeu é Meu escravo desde o Êxodo do Egito - Meu contrato com o povo judeu é o mais antigo."
A mitsvá de redimir um escravo judeu
Na época do Templo Sagrado, infelizmente, alguns judeus estavam tão desesperados por dinheiro que se vendiam a não-judeus idólatras.
Mas isto era lamentável. Num local pagão, logo aprenderia a adorar ídolos e começaria a assimilar costumes não judaicos.
A Torá ordena: "É mitsvá para os parentes de um judeu que se vendeu redimi-lo o quanto antes. E se seus parentes não podem redimi-lo, é mitsvá que outro judeu o redima."
A Torá também ordena que o governo de Israel obrigue o amo não-judeu a libertar o escravo judeu no ano de Yovel.
A proibição de se prostrar sobre um chão de pedras
A Torá ordena: "Não te ajoelharás perante Mim sobre um chão de pedra." (26:1)
Os idólatras costumavam prostrar-se para seus ídolos sobre chãos de pedra. Por isto, a Torá proíbe aos judeus ajoelharem-se sobre um chão de pedra, mesmo que estejam rezando para D'us. Esta mitsvá nos afasta da idolatria.
O único lugar onde podemos prostrar-nos sobre tal chão é no Templo Sagrado (onde é evidente que nos prostramos em honra a D'us).
Uma vez que a proibição da Torá diz respeito apenas a chãos de pedra, não é proibido prostramo-nos em Yom Kipur em sinagogas cujo chão geralmente não são de pedras. Não obstante, é costume estender uma almofada, cobertura ou algo no chão quando nos prostramos.

Bechucotai, a última porção da Torá do Livro Vayicrá, começa relacionando brevemente algumas das bênçãos e recompensas que o povo judeu receberá por seguir diligentemente a Torá e por cumprir as mitsvot.
A porção então muda para o assunto que a tornou famosa - a tochachá, a severa admoestação de D'us. Passo a passo, a Torá descreve as tragédias que acontecerão ao povo judeu, muitas vezes em termos descritivos, por eles terem abandonado a observância da Torá e mitsvot fornecendo uma lúgubre descrição daquilo que foi nossa história até este dia.
A porção então continua para falar sobre a santificação dos presentes voluntários ao Templo Sagrado, e o processo pelo qual uma pessoa pode monetariamente redimir aqueles itens santificados para seu próprio uso.
O Livro de Vayicrá conclui com uma breve discussão sobre os dízimos, incluindo uma porção que o fazendeiro deve ele próprio consumir dentro da cidade de Jerusalém, chamada ma'asser sheni.

D’us esqueceu?
por Micah Gimpel
A porção desta semana da Torá contém a tochachá, a famosa advertência severa aos Filhos de Israel por não seguirem os caminhos que D'us ordenou. Entretanto, embora a longa passagem comece com uma nota negativa, termina de modo inspirador. D'us nos diz que perdoará os Filhos de Israel assim que se arrependam e mudem seu modo de agir. Esta seção enaltecedora começa com um interessante versículo: "Lembrarei de Meu pacto com Yaacov, e também Meu pacto com Yitschac, e também Meu pacto com Avraham lembrarei, e lembrarei da Terra" (Vayicrá 26:42).
Linguisticamente, este versículo é bastante difícil por várias razões. Rashi cita um Midrash que faz uma pergunta óbvia e esclarecedora: por que a Torá usa a linguagem de "lembrar" referindo-se a Yaacov e Avraham, mas não em relação a Yitschac? Seria possível que D'us lembre-Se menos de Yitschac que dos outros?
O Midrash, conforme foi citado por Rashi, dá uma resposta que requer alguns esclarecimentos. Declara que o Criador vê as cinzas de Yitschac como se fossem juntadas e colocadas sobre o altar; portanto, lembrar é desnecessário no caso de Yitschac. Esta declaração está se referindo à akeidá, o quase-sacrifício, de Yitschac na mão de seu pai, descrito no final da Parashá Vayerá (Bereshit 22:1-19).
Deixando-se de lado a aparente irrelevância da akeidá ao assunto em discussão, devemos em primeiro lugar entender sobre o que o Midrash está falando, pois como deve se lembrar, Yitschac jamais foi sacrificado, e portanto nunca foi queimado sobre o altar. No último momento Avraham rescindiu Sua ordem. Se é aquele o caso, como pode o Midrash dar uma resposta aparentemente tão errônea, falando sobre as cinzas inexistentes de Yitschac?
A akeidá foi um tremendo teste de fé, que serve como paradigma da grandeza de Yitschac. Contando já 37 anos e maduro de caráter, Yitschac concordara em agir de acordo com a ordem de D'us e dar sua vida. Este fiel atributo brotou da natureza passiva de Yitschac. Durante toda sua vida, sua grandeza foi demonstrada por sua falta de iniciativa. Voltou às mesmas cidades que Avraham havia visitado anteriormente, a fim de reforçar o que seu pai já havia feito; poucas vezes fez algo por sua própria iniciativa. Foi durante a akeidá que a passividade de Yitschac mostrou-se mais fortemente, e isso caracteriza sua vida inteira e toda sua personalidade.
O Criador, portanto, viu Yitschac como se efetivamente tivesse sido sacrificado sobre o altar, pois estava desejoso de entregar sua vida até mesmo no último momento. As cinzas teriam representado a realização do sacrifício e permanecem perante D'us como um lembrete permanente da grandeza de Yitschac. Portanto, o Chofetz Chaim explica, como as cinzas de Yitschac são sempre vistas, não há necessidade de lembrete.
Este entendimento sobre Yitschac esclarece ambas as perguntas. A razão pela qual Yitschac não é "lembrado" no versículo é simplesmente porque jamais foi esquecido. É desnecessário lembrar algo que permanece constantemente no primeiro plano da consciência. Portanto, ao responder esta questão, o Midrash refere-se à akeidá – o meio pelo qual ele jamais fora esquecido – para expressar a grandeza de Yitschac, sua passividade. Moshê está dizendo aos Filhos de Israel os castigos que advirão pelos seus pecados, e como Ele os perdoará. As ações dos Filhos de Israel foram tão ofensivas que não podiam pedir misericórdia por suas iniqüidades. Mas pelo mérito de Yitschac, que representa a grandeza pela falta de ação, os Filhos de Israel poderiam arrepender-se e pedir a D'us para deixar passar seus horríveis pecados, concentrando-se em sua falta de ação.
A passividade de Yitschac permite-nos sermos grandes através de nossa própria passividade. Evitarmos uma situação negativa pode por vezes ser equivalente a realizar um ato positivo.

D'us deseja que todos os judeus estudem Torá e cumpram as mitsvot
Após Moshê terminar de ensinar as leis das oferendas ao povo judeu, D'us disse-lhe: "Eu, D'us, desejo que todo o povo judeu estude Torá e cumpra as mitsvot."
D'us quer que devotemos nosso coração e mente por inteiro ao estudo de Torá. Nossos Sábios tornaram-se notáveis porque levaram o estudo de Torá mais a sério que qualquer outra ocupação neste mundo.
Quando Ravá aprendeu a Torá, concentrou-se tão profundamente que nem se deu conta de que seu dedo estava sangrando!
Um exemplo de um erudito de Torá que tornou-se notável pela sua determinação e trabalho foi Rabi Akiva.
O que Rabi Akiva aprendeu com uma pedra
Rabi Akiva não aprendeu a Torá em sua juventude. Mesmo quando já contava quarenta anos, quase nada sabia.
Era pastor e trabalhava para um homem rico, Calba Savua. A filha de seu amo, Rachel, disse-lhe: "Akiva, se você tentasse, poderia tornar-se um erudito de Torá!"
"Como seria possível?" - pensou tristemente Rabi Akiva. "Sei tão pouco - e há tanto o que aprender. Jamais serei um erudito de Torá."
Um belo dia, Akiva passava por uma rocha sobre a qual a água estava pingando; a pedra era maravilhosamente lisa.
Aquilo fez Akiva refletir.
"Como pôde esta pedra ficar tão lisa?" - perguntou às pessoas próximas a ele.
"É por causa das gotas d'água," disseram-lhe. "A água goteja continuamente sobre a pedra até finalmente deixá-la lisa."
"É isso o que frágeis gotas de água podem fazer a uma dura rocha?" - meditou Akiva. "Podem penetrá-la porque gotejam incessantemente! Então, se eu estudar constantemente as palavras da Torá, elas certamente entrarão em meu coração!"
Akiva começou a estudar com todas as suas forças. Não desistiu. Finalmente, tornou-se um dos maiores líderes de Torá do povo judeu.
Devemos aprender com esta atitude de Rabi Akiva. Nós, também, teremos sucesso em nossos estudos de Torá se estivermos determinados a usar toda nossa energia e trabalhar com afinco.

D'us promete nos abençoar se estudarmos e seguirmos a Torá
D'us prometeu: "Se todos os judeus estudarem Torá com energia e cumprirem Minhas mitsvot, mandarei a eles bênçãos maravilhosas."
As bênçãos incluem todo tipo de felicidade e êxtase, "de alef a tav" (de 'a' a 'z'). Elas começam, por conseguinte, com a primeira letra do alfabeto hebraico, o alef: "Im bechucotai", e terminam com a última letra tav: "comemiyut".
Elas são concedidas ao nosso povo por cumprir as mitsvot "de alef a tav", do começo ao fim.
As gerações observantes da Torá, as de Moshê, Yehoshua, David, Shelomô e mais tarde o rei Chizkiyáhu beneficiaram-se de boa parte das bênçãos prometidas nesta parashá. Eram abençoados com saúde, força e vigor, chuvas na época certa, prosperidade e vitórias sobre os inimigos.
Eram a prova viva do versículo: "E todas as nações da terra verão que são chamados com o Nome de D'us, e os temerão." (Devarim 28:10).
Não obstante, a completa gama de bênçãos ainda não se realizou, o povo judeu jamais atingiu o nível de perfeição espiritual necessário para que as bênçãos Divinas sejam-lhe concedidas em sua totalidade.
O Todo-Poderoso prometeu que todas as bênçãos mencionadas nesta parashá serão cristalizadas e cumpridas, numa era futura, quando todo o povo judeu observará e estudará a Torá.
As bênçãos Divinas são introduzidas pelas palavras: "Im bechucotai telêchu" (26:3), que significam: "Se apenas andarem e labutarem em Minha Torá!"
Isto é um clamor, um rogo ao povo judeu. O Todo-Poderoso não tem desejo mais querido que inundar-nos de bênçãos. Por isso, implora-nos: "Por favor, estudem Minha Torá e cumpram as mitsvot, permitindo-Me conceder-lhes Minhas bênçãos!"
Quais foram as bênçãos prometidas por D'us?
1 - A bênção da chuva
D'us prometeu: "Mandarei chuva a Israel na época apropriada."
Isto inclui muitas bênçãos:
• A chuva faz com que o ar e a água potável sejam puros. Como resultado disso, as pessoas serão saudáveis e viverão até uma idade avançada. Terão filhos saudáveis. Os animais, também, vicejarão.
• A quantidade certa de chuva cairá na estação em que é necessária para o grão crescer. Por isto, as colheitas serão fartas.
• A chuva não cairá em épocas inconvenientes, quando as pessoas estão ao relento e terão problemas. D'us mandará a chuva durante a noite, enquanto as pessoas estão dormindo. A chuva cairá especialmente na noite de sexta-feira, enquanto cada família está reunida em casa, à mesa do Shabat.
D'us prometeu a bênção de "chuva no tempo apropriado" apenas para o povo judeu. As nações fora de Israel não receberão esta bênção. Por este motivo, não terão grãos suficientes. Procurarão, então, o povo judeu para comprar a produção.
2 - A bênção da comida farta
D'us prometeu ainda: "Abençoarei os frutos e grãos de Israel. Até mesmo as árvores que normalmente não dão frutos, começarão a produzi-las. E as frutas amadurecerão no espaço de um dia apenas!"
"Haverá tanto cereal que demorará muitos meses para debulhá-lo. Assim que terminarem de cuidar do grão, as uvas da vinha estarão maduras e terão de ser colhidas. Devido à grande fartura, vocês não terão descanso entre uma colheita e outra."
D'us nos recompensa com a mesma moeda. Por estarmos continuamente atarefados com Torá e mitsvot, Ele nos manterá ocupados com uma colheita após a outra, sem parar.
D'us prometeu: "Mesmo tendo muita comida, não devem comer demais. Abençoarei seus alimentos para que vocês fiquem satisfeitos mesmo após comer pouco. (Isto é uma bênção, pois comer demais ou ingerir muitos doces ou comidas gordurosas causam doenças.)
"Vocês poderão vender a produção excedente."
De todas as bênçãos, a principal é de que a terra será produtiva.
É equivalente a um monarca fabulosamente rico, cujos cofres transbordavam de tesouros. A despeito de suas riquezas, o poderoso governante era constantemente forçado a perguntar ansiosamente até ao mais baixo de seus súditos: "A terra é produtiva?" Se não há alimentos disponíveis, sua fortuna seria inútil.
D'us assegura ao povo judeu que pelo fato de cumprirem a Torá, a terra torna-se fértil.
Contudo, a bênção Divina vai muito além disso.
D'us prometeu: "Se guardarem a Torá perfeitamente, a terra fará brotar sua produção" (26:4), sua produção original perfeita - da maneira pretendida pelo Criador antes de Adam (Adão) pecar. Esta promessa implica:
• As plantas amadurecerão no mesmo dia em que suas sementes forem semeadas.
• Árvores frutíferas darão frutos no período de um dia.
• Não haverá árvores infrutíferas. Todas as árvores produzirão alguma espécie de fruto comestível.
• Não apenas os frutos das árvores serão comestíveis, mas também seus córtex e cascas.
Originalmente, D'us pretendia que a terra produzisse rápida e plenamente. Em decorrência do pecado, foi amaldiçoada por D'us e deteriorou-se. No futuro, quando o povo judeu dedicará todo seu tempo e energia ao estudo da Torá, a maldição de "com o suor de tua fronte comerás teu pão" será novamente retirada, e a terra nos suprirá com abundância, como costumava fazer. Não será mais necessário trabalhar o solo. Todo judeu ganhará seu meio de vida com facilidade, podendo, assim, dedicar seu tempo ao Serviço Divino.
3 - A bênção da paz
Apesar da bênção anterior assegurar-nos abundância de alimentos e bebida, essa promessa, em si, equivale a bem pouco, se não for acompanhada de outra: PAZ. Não importa o quanto alguém possua, não pode usufruir de sua fortuna se vive em constante temor.
Por isso, o Todo Poderoso garante: "E outorgarei paz sobre a Terra, e deitarás, e ninguém te fará tremer" (26:6). Esta garantia é essencial para se beneficiar de todas as bênçãos anteriores.
D'us prometeu: "Geralmente, quando uma nação é rica, seus inimigos tentam invadi-la. Entretanto, embora o povo judeu seja abençoado com a riqueza, nenhuma outra nação tentará atacá-los."
"Não apenas outros exércitos não lutarão contra vocês, como nem mesmo consentirei que passem pela sua terra quando estiverem a caminho de outras batalhas. Não quero que fiquem entristecidos pela visão preocupante de soldados com armas. Literalmente não haverá espada passando sobre Israel (26:6).
"E se precisarem lutar fora de seu país, causarei confusão entre seus inimigos. Eles se atacarão uns aos outros e cairão perante vocês. Cinco de vocês serão capazes de atacar uma centena de soldados inimigos. E apenas uma centena de vocês poderão combater um exército de dez mil inimigos!"
A paz máxima, porém, ainda é por nós desconhecida atualmente. A paz prometida para o futuro inclui o seguinte:
• Feras selvagens serão inofensivas em Israel, exatamente como eram antes de Adam pecar. O profeta predisse: "E o leão comerá feno como o touro, e o lactente brincará na toca da serpente." (Yeshayáhu 11:7)
• Não apenas feras, mas todo tipo de forças prejudiciais serão subjugadas. As nações do mundo, não mais afligirão o povo judeu.
4 - A bênção de famílias numerosas
D'us também prometeu: "Se todos os judeus cumprirem a Torá, abençoarei as famílias judias com muitos filhos. Darei às crianças saúde e vida longa."
Os pais se preocupam sobre como alimentar suas grandes famílias. Por isso, a Torá repete que D'us dará comida mais que suficiente.
D'us disse: "Me voltarei a você e dedicarei Meu devotado amor ao seu progresso físico e espiritual. Seus filhos crescerão para se parecerem com você moral e espiritualmente."
"Sua grandeza aumentará com toda criança que nascer, pois cada uma será portadora de Torá e mitsvot, reforçando os laços entre D'us e o povo judeu."
5 - A colheita melhorará com a idade
E D'us adicionou novas bênçãos:
"A produção estocada em seus silos não se estragará. Pelo contrário, toda a produção se tornará mais deliciosa e saborosa com a passagem do tempo (e não apenas trigo e vinho, que geralmente melhoram com o tempo).
"Então vocês se encontrarão num estranho dilema. Seus silos e celeiros estarão cheios de alimentos quando a nova colheita neles fluir. Vocês nem saberão o que fazer: devem trazer o cereal novo ao celeiro para secá-lo, mas os celeiros ainda estão repletos de grão velho e delicioso. Terão que tirar este grão e armazená-lo em outro local. Vocês serão abençoados, tendo mais grãos do que poderão comer."
6 - A bênção de que a Shechiná (Presença Divina) estará entre nós
Agora vem a derradeira e mais importante bênção. D'us prometeu: "Darei a vocês um terceiro e permanente Templo Sagrado. Minha Shechiná repousará não apenas no Templo Sagrado, mas onde quer que os judeus estejam. Sentirão como se Eu estivesse caminhando entre vocês, pois darei a vocês um grande entendimento sobre Mim."
Esta última bênção significa que todos se sentirão próximos a D'us e apreciarão Sua presença. Esta é a maior de todas as alegrias possíveis.
O rei decidiu que um de seus súditos deveria acompanhá-lo em sua caminhada diária através do jardim. Jamais um rei se dirigira àquele aldeão, a quem, nunca em sua vida andara junto com alguém de nível superior. Ao exigirem que se adiantasse, permaneceu tremendo e imóvel, emocionado demais para tomar seu lugar ao lado do rei. Este, contudo, encorajou-o dizendo: "Não tema. Hoje, somos amigos!"
Similarmente, no futuro, D'us andará junto com os justos e lhes dirá: "Não temam! Somos amigos." (Contudo, apesar de andarem juntos, na companhia de D'us, ainda sentirão o temor de Sua grandeza.)
No mundo presente, a Shechiná é percebida apenas por grandes tsadikim (justos). No futuro, contudo: "A glória de D'us será revelada, e toda carne junta a verá." (Yeshayáhu 40:5):
No futuro, os justos formarão um círculo em torno de D'us, e Ele estará em seu meio. Cada um apontará para Ele e dirá: "Veja, este é nosso D'us, esperamos por Ele, e Ele nos salvou." (Yeshayáhu 25:9).

D'us adverte os judeus a nunca abandonarem Torá e mitsvot
Após D'us ter explicado as bênçãos por cumprir a Torá, advertiu: "Nunca abandonem Minha Torá ou parem de cumprir Minhas mitsvot! Se o fizerem, Eu os punirei."
D'us pressagiou seis punições:
1 - Ele mandará doenças.
2 - Haverá escassez e fome em Israel.
3 - Animais selvagens destruirão muitos judeus.
4 - Os inimigos matarão muitos judeus.
5 - D'us enviará uma peste.
6 - O Templo Sagrado será destruído e o povo judeu exilado.
Enquanto acreditamos que o estudo da Torá e cumprimento das mitsvot trazem bênção sobre nosso povo, poderíamos concluir que negligenciá-los causa meramente a ausência de bênçãos Divinas. Esta é uma concepção errônea. A Torá mostra que quando a Torá se afasta, acarreta-nos o oposto de bênção.
Abaixo, detalharemos algumas das maldições:
• Doenças
D'us prometeu que se o povo judeu for espiritualmente perfeito, Ele o protegerá de todas as doenças, como está escrito (Shemot 23:25): "E Ele abençoará teu pão e tua água, e Eu removerei todas as doenças de teu meio."
Apesar de atualmente termos de procurar o conselho de um médico, não obstante, devemos fazê-lo com a consciência de que são meros agentes do Todo Poderoso, e é Ele Que dita a saúde e a doença.
• Quebrando o orgulho do poder do povo judeu
Esta maldição possui diversas implicações, dentre elas:
"Eu deitarei por terra o Templo Sagrado, que é o 'orgulho de seu poder'". (Yechezkel 24:21)
Apesar da realização desta maldição causar pesar e luto ao nosso povo, ela contém, não obstante uma bondade oculta.
Quando o salmista Assaf compôs o salmo referente à destruição do Templo Sagrado, iniciou com as palavras: "Um cântico para Assaf. Oh! D'us! As nações odiosas entraram em Tua herança. Impurificaram o Santuário da Tua santidade." (Tehilim 79:1).
Por que denominou sua composição de "cântico"? Parece que a introdução apropriada a esse salmo deveria ser "uma ode", "um lamento" ou "uma eulegia de Assaf".
A explicação pode ser compreendida através de uma parábola.
Um rei construiu uma elegante casa de veraneio para seu filho. Empregou equipes de trabalhadores para embelezá-la, pintores para pintar as paredes com padrões ornamentais, e criar belas paisagens e ambientes nos jardins.
Pouco tempo depois, o filho do rei começou a circular em má companhia, e sua conduta se deteriorou.
O rei ouviu relatos vergonhosos referentes a seu filho, despertando sua ira. Viajou até o retiro, entrou e quebrou todas as suas colunas e esteios. Virando-se aos escravos, ordenou que a moradia inteira fosse destruída.
O tutor do príncipe presenciou a cena de destruição. Curvou-se, apanhou um caniço de bambu do chão, e utilizando-o como uma flauta, começou a tocar uma melodia alegre.
Os presentes ficaram estupefados, pois sabiam o quanto o tutor amava o príncipe.
"Como pode tocar uma melodia alegre enquanto o rei está destruindo a casa de veraneio de seu filho?" - indagaram-lhe.
"Estou aliviado," esclareceu o tutor, "pois o rei descarregou sua ira sobre as paredes da casa, em vez de sobre o próprio príncipe. Se sua ira tivesse atingido o príncipe, teria decretado-lhe pena capital."
Similarmente, Assaf explicou a seus contemporâneos: "Estou contente, pois D'us extravasou Sua ira sobre madeira e pedras do Templo Sagrado, em vez de destruir o povo judeu."
A maldição da Torá acima mencionada, não obstante sua ominosa e sinistra mensagem, denota que o povo sobreviverá e poderá, por conseguinte, reconstruir seus santuários destruídos.
• O cerco inimigo, levando à morte e fome
A maldição da falta de alimentos realizou-se durante a destruição de ambos os Templos. Durante o cerco romano à Jerusalém, antes da destruição do Segundo Templo Sagrado, sucedeu-se o seguinte:
A cidade de Jerusalém orgulhava-se de três homens cuja fortuna era proverbial. O primeiro, Nacdimon ben Gurion, recebeu seu nome porque, certa vez, o Todo Poderoso fez com que o sol reaparecesse após ter se posto, por causa de sua oração (Nacdimon vem do radical nacad - brilho). O segundo, Ben Calba Savua, tem seu nome derivado de sua hospitalidade. Significa que qualquer pobre que entrava em sua casa faminto como um cachorro (Calba = kelev, cachorro) saía de lá satisfeito. O terceiro era Ben Tsitsit Hakesas. "Ben Tsitsit" significa que nunca andava fora de casa sem que um tapete fosse estendido à sua frente, para que os tsitsit (franjas) de sua veste nunca tocassem o chão. "Hakesas" alude ao fato de que sua cadeira (kissê) ficava estacionada junto a dos nobres romanos, sempre que estava no palácio do imperador, em Roma.
Esses três homens prometeram colocar suas fortunas à disposição da cidade sitiada; um suprindo-a com trigo e cevada, outro com líquidos, e o terceiro com lenha e madeira. Suas fortunas eram tão imensas que seus fornecimentos supriram a cidade pelos próximos vinte e um anos.
Entretanto, havia no meio do povo um grupo de militantes judeus que recusavam-se a seguir a política dos sábios de submeterem-se a Roma. Exigiam guerra, e por este motivo atearam fogo aos armazéns. Fome e escassez grassaram então em Jerusalém. A fome aumentou até que finalmente, até mesmo os mais ricos, não tinham sequer uma migalha de pão.
Ao andar pelas ruas, Rabi Yochanan ben Zacai percebeu pessoas que cozinhavam palha e bebiam esta sopa.
Durante a destruição do Primeiro Templo, as classes mais elevadas ainda possuíam algum alimento, apesar da carestia geral. Contudo, durante a destruição do Segundo Templo Sagrado, a nobreza judaica também expirava de fome.
No início do cerco de Jerusalém, os judeus ricos encheram cestas com ouro para os romanos que estavam fora das muralhas da cidade, em troca de alimentos. Os romanos trocavam cada cesta carregada de ouro por uma cheia de carne. Mais tarde, pegavam o ouro e devolviam uma cesta cheia de palha. Os judeus, famintos, cozinhavam a palha e bebiam o líquido.
Ao final, os romanos pegavam as cestas cheias de ouro e devolviam-nas vazias.
• O Templo Sagrado e a Terra ficarão desolados
"E não aceitarei suas oferendas com satisfação." Eventualmente, o Serviço do Templo Sagrado cessará.
Antes da destruição do Primeiro Templo Sagrado, o serviço continuou, apesar dos inimigos terem entrado em Jerusalém. Quando já não havia mais cordeiros disponíveis para oferendas, subornavam os inimigos com cestas de ouro para contrabandear os animais necessários por sobre as muralhas. No dia 17 do mês judaico de Tamuz, não receberam mais animais, e o sacrifício diário chegou ao fim. Os outros serviços continuaram até o dia7 de Av.
Mais além, a Torá adverte que cidades antes bastante povoadas ficarão desoladas de transeuntes, e a Terra desolada de habitantes.
O versículo conclui com uma garantia reconfortante. O Todo-Poderoso não deseja que estranhos instalem-se permanentemente em Israel e dela usufruam. Por isso, Ele prometeu: "E ela ficará desolada de seus inimigos que nela vivem." Isto implica que nenhuma outra nação, a não ser o povo judeu, encontrará satisfação em habitar a Terra, e conseqüentemente, nenhuma ocupará a Terra permanentemente.
De fato, apesar de, no decorrer dos séculos, muitas nações terem tentado reconstruir a Terra de Israel, nenhuma obteve sucesso. Desde a destruição do Templo, a Terra não recebeu nenhuma nação estrangeira gentilmente; sinal de que aguarda o retorno de seus filhos, na era Messiânica.
• Exílio
"E espalharei vocês entre as nações" (26:33).
Se um povo de certa nacionalidade está exilado em outro país, geralmente instalam-se juntos. Contudo, no que tange aos judeus, o Todo-Poderoso proclamou: "Eu vos espalharei de maneira similar a alguém que joeira grãos de cevada. Ele sacode a batéia em todas as direções, para que nem mesmo dois caiam juntos. Do mesmo modo, ficarão separados uns dos outros."
Contudo, como em todas as maldições, esta também contém uma bondade oculta.
Se o Todo-Poderoso tivesse exilado nosso povo inteiro num único país, há muito teríamos sido eliminados. Uma vez que estamos dispersos através do globo, quando judeus num país são perseguidos, os de outras regiões sobrevivem.

Onde está a Shechiná, desde que o Templo Sagrado foi destruído?
Quando os judeus pecaram a Presença de D'us deixou o Templo Sagrado. Retirou-se para o céu.
Porém, uma parte da Shechiná permaneceu na terra para acompanhar alguns judeus que deixaram Israel e foram levados ao exílio da Babilônia. Quem eram os afortunados judeus a quem a Shechiná acompanhou?
Nem os juízes do San'hedrin, nem os cohanim do Templo Sagrado, nem os leviyim que serviam os cohanim foram acompanhados pela Shechiná, pois D'us estava aborrecido com eles por causa das transgressões que cometeram.
D'us mostrou seu amor especial, porém, pelas crianças judias, porque estavam livres do pecado. Somente elas foram acompanhadas pela Shechiná, que os protegia.
Parte da Shechiná repousa para sempre no Muro Ocidental em Jerusalém, o Cotel. É um dos muros do Monte do Templo. D'us prometeu que o muro jamais será destruído; Sua Shechiná ali repousa.
Onde estão as dez tribos?
As tribos de Yehudá e Binyamin foram as últimas duas tribos levadas a Babilônia pelo rei Nabucodonosor, quando da destruição do Primeiro Templo Sagrado. Nós, os judeus da época atual, somos na maioria descendentes daquelas tribos ou da tribo de Levi.
Onde estão as outras dez tribos? Foram levadas para fora do país mais de um século antes da destruição do Primeiro Templo Sagrado pelo Rei da Assíria. Para onde foram?
O Midrash nos conta que D'us escondeu as dez tribos atrás do rio Sambatyon. Este rio é chamado "Sambatyon" ou "Sabatyon", porque age estranhamente em Shabat. Durante toda a semana, flui e joga pedrinhas para cima. Entretanto no Shabat, fica completamente imóvel.
Hoje não sabemos a localização deste rio ou a das tribos perdidas. Quando Mashiach chegar, D'us fará com que as tribos perdidas se reunam novamente ao povo de Israel.
A Torá continua: "Mesmo quando o povo judeu estiver em terras estranhas, não o abandonarei. Enviarei Meus profetas para incentivá-lo a fazer teshuvá."
Após a destruição do Primeiro Templo Sagrado, D'us enviou o profeta Yechezkel à Babilônia. Ele liderou o povo judeu e o incentivou a fazer teshuvá. Por terem lhe obedecido e retornado a D'us, setenta anos mais tarde tiveram o mérito de obter permissão para retornar a Israel

A Shechiná de D'us permanecerá conosco mesmo no exílio
Esta maravilhosa promessa tornou-se realidade. De todas as nações antigas, apenas o povo judeu sobrevive.
O Imperador Romano disse a Rabi Yehoshua ben Chananyá: "É incrível como uma pequena ovelha consegue viver entre uma matilha de setenta lobos!"
Quem é a ovelha a que o imperador se referia? O povo judeu. E a quem ele comparou os setenta lobos? As setenta nações do mundo, que procuram incessantemente destruir o povo judeu.
Entretanto, Rabi Yehoshua respondeu ao imperador: "Não admire a ovelha! Admire o Pastor que a protege dos dentes de setenta lobos!"
O povo judeu teria sido destruído muito tempo atrás, não fosse a especial proteção Divina, prometida na Torá.
"E tropeçarão e falharão, um por causa do outro."
As palavras desse versículo são interpretadas pelos sábios como "por causa dos pecados do outro." Ensina o princípio fundamental da Torá de responsabilidade mútua. Se um judeu transgride uma lei da Torá, outro judeu, que poderia protestar, mas em vez disso apenas observou a transgressão em silêncio, é cobrado pelo pecado de seu semelhante.
Mais que isso, quando um judeu peca, mesmo secretamente, fere o povo inteiro.
Os passageiros já estavam sentados por horas no avião. Alguns liam, outros conversavam, porém a maioria cochilava, sendo este um vôo sereno.
De repente, entretanto, um passageiro arregalou os olhos ante a estranha atividade de seu vizinho. O homem tirara uma caixa de ferramentas de sua bagagem, e começava a furar debaixo de seu assento, com mãos fortes e peritas. "O que está fazendo? " perguntou perplexo.
"Nada que lhe interesse," retrucou o outro, enfiando a furadeira cada vez mais fundo.
Ele pulou, correndo para a cabina do piloto, trazendo-o consigo.
Após lançar um olhar para a cena, berrou: "Pare imediatamente, e entregue as ferramentas!"
O passageiro olhou surpreso para o piloto: "O que quer dizer? Este é meu assento! Paguei por ele!"
A essa altura, todos os passageiros acorreram à cena, gritando: "Doido! Idiota! Aqui não há algo como 'assento particular'! Não sabe que se fizer um buraco sob seu assento, estará colocando em perigo a vida de todos a bordo?!"
Através desta parábola, os sábios explicam a responsabilidade de cada judeu diante de seu povo. Todos os judeus são uma entidade espiritual única, pois suas almas estão conectadas umas às outras. Por conseguinte, um indivíduo judeu que peca fere não apenas sua própria alma, mas prejudica o povo inteiro.
Consolo e promessa para a nossa época
O Todo Poderoso declara: "No exílio, não permitirei que os judeus assimilem-se completamente. Se imitarem os hábitos de seus vizinhos não judeus, Eu os forçarei a reconhecer Minha autoridade. Se então confessarem seus erros e voltarem-se a Mim, imediatamente Eu terei compaixão e os redimirei, pelos méritos de seus antepassados."
D'us promete: "Se os judeus fizerem teshuvá, terminarei imediatamente com seu exílio. Se não fizerem teshuvá, terminarei seu exílio quando chegar a época apropriada."
"E lembrarei Minha aliança com Yaacov, e também Minha aliança com Yitschac, e também Minha aliança com Avraham lembrarei, e Me lembrarei da Terra." (26:42)
Apesar de nossas matriarcas não serem mencionadas explicitamente, sua memória também está incluída. Seus méritos também são necessários para que sejamos redimidos. As matriarcas estão indicadas através da palavra "et", que acompanha o nome de cada patriarca. "Et" significa "junto com", significando que D'us Se lembrará daqueles que acompanharam os patriarcas, nominalmente: as matriarcas.
Finalmente, D'us afirma que Se lembrará da Terra. Por que D'us também Se lembrará da Terra?
Nossos patriarcas e a Terra de Israel estão intimamente ligados. Viver lá ajudou-os a alcançar a perfeição. A Terra, que desempenhou papel tão importante em suas vidas, é, portanto, mencionada onde quer que eles também sejam.
"E não anularei Minha aliança com eles."
Quando chegar a redenção final, o Todo-Poderoso nos dirá: "Meus filhos, parece incrível que pudessem ter esperado por mim durante milhares de anos!"
E nós responderemos: "Se não fosse pela Torá que nos deixaste, há muito tempo teríamos sucumbido a às pressões gentias, como declarou David no Tehilim: 'Se não fosse pela sua Torá que é o meu prazer, teria perecido na minha miséria'". (Tehilim 119:92).
D'us prometeu: "No futuro, Eu Mesmo, e não um ser humano irá resgatá-los da dominação dos não-judeus para sempre."
"Trarei o povo judeu de volta à sua terra. Serei seu D'us, e eles serão Meu povo. Assim como fiz milagres quando vocês se tornaram Meu povo no Êxodo, assim farei também farei milagres novamente no futuro."

Doar dinheiro no valor de uma pessoa ao Templo Sagrado
A Torá nos conta que uma pessoa pode doar uma soma de dinheiro no valor de si mesmo ou de outra pessoa ao Templo Sagrado.
Como sabemos quanto vale uma pessoa? A Torá relaciona o valor de cada um, homem ou mulher, por cumprir a mitsvá de valores. Por exemplo, o valor de todos os meninos de cinco a vinte anos de idade é de 20 moedas shekel. O valor de todos os homens entre vinte e sessenta é de 50 moedas shekel.
D'us não nos revelou Suas razões por fixar esta quantia em particular, mencionada na Torá para cada faixa etária.
Se um judeu declara: "Quero doar o valor de meu filho ao Templo Sagrado," D'us considera como se ele tivesse trazido esta criança como oferenda.
Os cohanim usavam o dinheiro recebido com esta mitsvá para consertar e manter em ordem o Templo Sagrado.
Um agricultor judeu deve doar a décima parte de seus animais recém-nascidos a D'us
A Torá ordena: "Um judeu que possua vacas, ovelhas ou cabras deve doar a D'us cada décimo recém-nascido."
Este donativo é chamado o dízimo dos animais.
Como são separados os animais?
Uma vez ao ano, o fazendeiro reúne todos os animais recém-nascidos num estábulo com uma porta tão pequena que apenas seja possível sair um animal de cada vez. O fazendeiro deixa então que os animais passem pela porta, um a um, contando-os. Quando passa o décimo animal, o fazendeiro o toca com uma varinha que foi mergulhada em tinta vermelha. E anuncia: "Este animal é o dízimo."
O que acontecia com os animais marcados com tinta vermelha?
O dono os levava a Jerusalém. Após terem sido abatidos, o cohen queimava as partes internas da oferenda sobre o altar. Então o cohen dava a carne ao dono, que tinha permissão de comê-la em Jerusalém.
A mitsvá de doar o dízimo dos animais tem maravilhosos benefícios para o povo judeu.
D'us temia que os lavradores judeus em Israel estivessem tão atarefados com as plantações e criando animais que não encontrariam tempo para o estudo de Torá. Por esse motivo, deu-lhes mitsvot que os forçariam a visitar Jerusalém. Uma destas mitsvot é o dízimo dos animais. Os judeus eram obrigados a ir a Jerusalém e visitar o Templo Sagrado em Pêssach, Shavuot e Sucot.
O que havia de especial na cidade de Jerusalém? Era um centro de aprendizado de Torá. Quando um judeu visitava Jerusalém, encontrava muitos sábios aos quais podia fazer perguntas. Seria então lembrado de como é importante estudar Torá.
Se um judeu tivesse um grande número de animais como dízimo, diria a um de seus filhos: "Viaje a Jerusalém e estude Torá! Temos uma grande quantidade de carne que deve ser comida em Jerusalém."
Desta forma, cada família judia enviava ao menos um membro a Jerusalém para estudar Torá. Aquela pessoa podia então ensinar a Torá e as mitsvot ao restante da família.
E assim, esta mitsvá ajudava a tornar cada família judia santificada. Este é o objetivo de todas as mitsvot. Tornam o judeu santo, então a Shechiná pode repousar não apenas no Templo Sagrado, mas no coração de todo o Povo de Israel.

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